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SUGESTÃO DE LIVROS | POR LINO TAVARES DIAS

SUGESTÃO DE LIVROS | POR LINO TAVARES DIAS
28 Maio 2021

Lino Augusto Tavares Dias nasceu em 1951. Licenciado em História, Doutor e Agregado em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Lino Dias foi professor do Ensino Superior, arqueólogo e investigador sobre a “Construção da Paisagem Antiga na Bacia do Douro”.

Como arqueólogo do Ministério da Cultura foi coordenador da Investigação da cidade romana de Tongobriga, desde 1980. Foi, ainda, Diretor Regional do Norte do Património Cultural do Ministério da Cultura.

A “Construção da Paisagem Antiga” e a “Gestão do Património” têm sido os temas tratado nos vários trabalhos e livros de que é autor, como resultado da investigação.

 

OBRA DE REFERÊNCIA:

“Memórias de Adriano”

Autor: Marguerite Yourcenar

Para um arqueólogo que investiga a construção da paisagem antiga, e fá-lo a partir das marcas deixadas no território, ruínas resilientes, esta obra ficcionada proporciona leituras apaixonantes, quer pela reconstituição dos ambientes quer pela expressão de pensamentos dominantes há cerca de dois mil anos. Para o investigador que se debruça sobre o património milenar e sobre a salvaguarda prioritária que atualmente nos deve merecer, este livro proporciona leituras contemporâneas, tal como acontecerá com qualquer cidadão que o faça em 2021.

A autora, Marguerite Yourcenar, abordou e concebeu esta obra, cuja redação terá começado nos anos 20 do século XX, como se fosse uma autobiografia de um imperador romano que governou o Império quando este atingiu a sua maior expansão geográfica e, consequentemente a maior diversidade de povos, desde o Oriente ao Finisterra atlântico, do rio Danúbio à cordilheira Atlas.

O texto serve-se de factos históricos reconhecidos e de elementos ficcionados, parecendo um longo aconselhamento que Adriano escreveu, na primeira pessoa, para os governantes que lhe iriam suceder na governação, especialmente Marco Aurélio.

A autora, com profundo conhecimento da cultura clássica, suportou-se na figura do imperador sexagenário, homem com a maturidade que a vida longa lhe proporcionara, já que a esperança média de vida, à época, andava em torno dos 45 anos. Nascido no ano 76, descendente de uma família da Hispânia, governou entre 117 e 138, viajou muito em todo o Império, o que lhe permitiu recolher experiências distintas e assumir-se como um político diplomata, com imagem de pacificador, protetor das artes e das letras, impulsionador de prosperidade, preocupado com estratégias de desenvolvimento e geoestratégias militares.

Comprova com expressões fortes e marcantes:

“construir é colaborar com a terra; era pôr numa paisagem uma marca humana que a modificará para sempre...”;

…“abrir portos era fecundar a beleza dos golfos…”;

…“fundar bibliotecas era construir celeiros públicos, acumular reservas contra um inverno de espírito…”;

…“reconstruir é colaborar com o tempo sob o seu aspeto de passado, apreender-lhe ou modificar-lhe o espírito, servir-lhe de muda para um mais longo futuro; é reencontrar sob as pedras o segredo das origens.”

…”quantos cuidados para encontrar a situação exata de uma ponte ou de uma fonte, para dar a uma estrada na montanha a curva ao mesmo tempo mais económica e mais pura..”.

O texto ficcionado proporciona-nos uma narração cronológica, em que Adriano discorre desde a infância até aos momentos em que já se sente doente, por velhice alicerçada numa vida muito ativa, com diversas experiências pessoais, nos amores, nos êxitos políticos, na diversidade cultural dos contactos diplomáticos, também nas dificuldades da governação e nas angústias dos objetivos não atingidos, não deixando de discorrer que “A nossa vida é breve: falamos sem cessar dos séculos que precedem ou se seguem ao nosso como se fossem totalmente estranhos; contudo eu tocava-lhes com os meus manejos na pedra.”
Este livro de Marguerite Yourcenar é extraordinário. Foi lançado pela primeira vez em 1951, com sucessivas edições ao longo das décadas, das quais uso a que a Editorial Ulisseia, do Porto, publicou em 1984.

A autora foi a primeira mulher eleita para integrar a Academia Francesa de Letras, em 1980, e deixou-nos várias obras de referência.

 

SUGESTÃO DE LIVROS E LEITURAS:

“A Cidade e as Serras” – Eça de Queiróz

“Breviário Mediterrânico” – Predrag Matvejevitch

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