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#CULTURA EM CASA // Apontamentos da nossa história | Os Romanos e a exploração do ouro em Paredes
O ouro desde cedo atraiu a atenção do Homem, muito devido à cor amarela brilhante que o caracteriza. No entanto é o facto de ser um metal raro e nobre (i.e., pouco reativo e, portanto, resistente à corrosão e oxidação) que o torna um dos mais valiosos do mundo e mais avidamente procurado. Assim, o ouro serviu como instrumento de troca ao longo da história sob várias formas: grãos, pó, pepitas, palhetas e depois fundido em barras e/ou convertido em moeda.
Estávamos nos finais do século I a.C. quando o Imperador Romano Augusto consegue finalmente subjugar os povos do Norte, passando a dominar completamente a Península Ibérica. A conquista deste território não foi ao acaso, considerando que autores da época referiam de forma entusiástica as suas riquezas minerais. Deste modo, durante a época romana a mineração europeia conheceu um longo período de extraordinária atividade que pôs em produção intensiva numerosos jazigos minerais.
É assim que chegamos às Minas de Ouro do concelho de Paredes, também elas intensamente exploradas, pelo menos, desde os romanos. É essencialmente nas freguesias do sul do concelho, Aguiar de Sousa, Recarei e Sobreira, acompanhando as serras de Pias, de Santa Iria e das Banjas e um pouco mais afastada, a Serra Queimada, que podem ser encontrados os trabalhos mineiros para a exploração desse metal precioso, sendo as minas mais conhecidas as de Castromil e as das Banjas.
Como testemunhos desta intensa atividade é possível observar em Castromil trabalhos de exploração a céu aberto e subterrâneos (desmontes estreitos e inclinados que correspondem às massas e/ou filões mineralizados), enquanto que nas Banjas ocorrem cortas, galerias e poços com diferentes níveis de extração que dão acesso a um conjunto de mineração subterrânea. Os poços e galerias, estruturas de exploração, serviram também para a evacuação de água, para a extração do minério, bem como para o trânsito de pessoal, de materiais e ventilação.
Os trabalhos mineiros subterrâneos obrigavam à iluminação artificial que era obtida pelas indispensáveis lucernas, pequenas lamparinas (por norma de cerâmica) que funcionavam à base de azeite, usadas especialmente para fins domésticos e que foram amplamente disseminadas por todo o Império. As marcas associadas ao uso destes utensílios consistem em pequenos nichos escavados nas paredes de galerias e poços – os lucernários.
O tratamento do minério está bem evidenciado, principalmente a fase mecânica, nos povoados-oficina identificados – o povoado-oficina do Poço Romano e o Outeiro da Mó – onde foram encontrados apiloadores (moinhos de pilão) e mós rotativas (inteiras e fragmentadas) que tinham como objetivo a trituração e moagem para transformar a rocha num grão mais fino. Nestes locais foram, também, encontrados fragmentos de vidro e de cerâmicas domésticas e de construção (telhas e pavimento).
O ouro, Aurum para os romanos, ao longo dos tempos, juntamente com outros metais existentes no nosso concelho, continua a ser motivo de interesse.
Julho de 2021
Natália Félix