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#CULTURA EM CASA // APONTAMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA | CAPELA DE NOSSA SENHORA DOS CHÃOS, BITARÃES
A Capela de Nossa Senhora dos Chãos localiza-se em Bitarães, num amplo espaço requalificado com um cruzeiro defronte à fachada principal.
Esta capela de devoção a Nossa Senhora da Natividade ou Nossa Senhora dos Chãos é referenciada em 1623, no Catálogo dos Bispos do Porto, como Ermida de Nossa Senhora dos Chãos. Em 1758, nas Memórias Paroquiais é referida como “Ermida Nossa Senhora da Natividade, vulgarmente chamada dos Chams, sita junto ao lugar de Pereiró”.
No início do século XX era considerada uma das maiores capelas do concelho de Paredes.
O seu aspeto ao estilo barroco e rococó, que podemos ver hoje, é o resultado das obras de ampliação realizadas no século XVIII, com o frontão de lanços côncavos rematados por linhas curvilíneas. Destaca-se um pequeno nicho de arco perfeito, decorado lateralmente por cornucópias, onde figura a escultura da padroeira, ladeado por dois óculos circulares. Tem campanário na fachada do lado direito.
No seu interior e a testemunhar a antiguidade do culto mariano existe uma belíssima escultura em pedra Ançã, da Senhora dos Chãos. A reforçar o simbolismo litúrgico da Natividade, podemos contemplar no altar-mor, as representações de Santa Ana e de São Joaquim, os pais de Maria.
Contudo, a designação de Senhora dos Chãos, desde, pelo menos, 1623, estará relacionada com a necessidade dos lavradores invocarem fertilidade para as suas terras e colheitas, pelo que a imagem mais antiga, é representada iconograficamente com um cacho de uvas na mão. Atualmente são-lhe acrescentadas espigas de centeio.
Pela descrição do Padre Simão de Crasto Passos, em 1758, depreende-se que as invocações à Senhora dos Chãos eram correspondidas, uma vez que, refere a freguesia de Bitarães como terra de grande fertilidade, que produzia milho, centeio, painço, feijões e grande quantidade de fruta de toda a casta, em particular a maçã. E acrescentava, que o vinho verde de enforcado tinha uma produção de tantos almudes de vinho como de alqueires de pão. Referindo, ainda, a particularidade de que este vinho era muito especial por conservar a perfeita saúde corporal vivendo até larga idade e não afetava a espiritualidade, pois raras vezes conturbava o entendimento.
A vigorosa devoção à Senhora do Chãos manifesta o seu auge a 08 de setembro, com uma forte romagem ao templo, que culmina com um bonito fogo de artificio, que José do Barreiro, na Monografia de Paredes, em 1922, descrevia-o como sendo superior ao do Palácio de Cristal na noite de São João do Porto.
Porém, esta veneração era e continua a ser uma manifestação de profunda religiosidade com a realização de uma devota novena, com início nove dias antes, anunciada pelo lançamento de morteiros e acentuada pela pregação de sermões, que comoviam as pessoas levando-as às lágrimas, tudo em ordem à preparação para os sacramentos da Penitência e da Eucaristia.
Em 1859, instituiu-se a Irmandade da Natividade de Nossa Senhora dos Chãos, cujos Estatutos foram aprovados em nome de El-Rei Dom Pedro V e do Bispo do Porto, Dom António Bernardo da Fonseca Moniz, em que os irmãos assumiam a obrigação de serem exemplos de veneração à Imaculada Virgem sob a Gloriosa Natividade.
Setembro de 2021
Maria Antónia Silva
Natália Félix