Exposição de Pintura 'Quantos Lugares cabem dentro de nós?' de Lurdes Amorim

"Quantos Lugares cabem dentro de nós?"

O mundo corre apressado, parece estar sempre em rutura com o já visto. Parecemos feitos de esquecimentos e não de lembranças.

Quis repor as imagens de um tempo vivido no passado, quase como uma história, torná-las memória, tratando-as como se a pintura cumprisse o papel que a fotografia lhe veio retirando aos poucos.

Não por saudosismos das memórias pictóricas outrora desenvolvidas que nos remetem para um tempo em que os “ismos” catalogavam, qual gaveta, todas as novidades expressivas surgidas, nem tão pouco por rutura ao comprometimento com o status quo da arte contemporânea que quase chegou ao grau zero com suas teorias metódicas e concetuais.

E não é por concordar com Baudelaire quando afirmava que “ a fotografia é inimigo mortal da arte”. Não, a fotografia está lá. Ela tem, ainda, o lugar que merece.
Mas agora o caminho é inverso.

Agora, é o olho da pintora que rouba a imagem à objetiva, fazendo uso desta como intermediária, despudorando-a, descongelando-a. Apropriando-se da sua objetividade para conferir identidade a quem observa a obra, já como uma memória (re)construída, com essência transformada em gestos espontâneos ou manipulados que imprimem cor, textura, forma, com narrativa ou ausência dela.

Trata-se também de devolver às imagens e aos lugares o que muita atividade pictórica lhes retirou, parafraseando Roland Barthes “ao colarem as palavras no lugar das coisas…”, destramar a realidade, libertá-la dos signos, é como buscar a inocência do primeiro olhar, tornar a comunicação quase imediata, levando o observador a desejar visitar o lugar ou a revisitá-lo.

Lurdes Amorim