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SUGESTÃO DE LIVROS | POR MARIA IRENE MOREIRA
Maria Irene Carvalho Leal Mendes Moreira, mais conhecida por Mié Mendes Moreira. Nascida no Porto em 1963, passei a minha infância e adolescência em Paredes, onde estudei até ao 9º ano e fiz o 10 e 11º anos em Penafiel. Fui viver para o Porto no 12º ano onde, posteriormente, fiz a licenciatura em Direito e onde fiquei a viver e a trabalhar.
Entretanto, fiz uma incursão por Lisboa, onde fiz o 4º ano de Direito e, posteriormente, após a licenciatura, um estágio no Instituto da Propriedade Industrial.
Com a morte do meu pai, 2 meses e meio depois de ter terminado a licenciatura em 1986, fiz o estágio de advocacia, trabalhei num bar e comecei a trabalhar numa empresa têxtil como Directora de Recursos Humanos.
Em 1987, publiquei o livro “Bruma”, com poemas das minhas inquietações de adolescente e jovem mulher.
Em 1989 entrei para os quadros da APDL – Administração do Porto do Douro e Leixões como técnica superiora e nomeada chefe de secção e posteriormente de divisão de Recursos Humanos, em regime de comissão de serviço, onde permaneci até 1994, altura em que meti uma licença sem vencimento e fui como Voluntária pela ONG-D – LEIGOS PARA O DESENVOLVIMENTO, em regime de requisição pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, no âmbito do Projecto ÁFRICA AMIGA, para a Angónia, província de Tete, Moçambique.
Na Angónia fizemos de tudo: fomos professores, eu de Português, na Escola de Lifidzi, em colaboração com os Padres Jesuítas e integrados no ensino oficial Moçambicano; professores do Curso de Formação Pedagógica de Professores com cerca de 50 Professores do Ensino Básico; criámos uma biblioteca na Escola de Lifidzi; distribuímos mini bibliotecas básicas nas escolas primárias das Zonas de Influência Pedagógica de Lifidzi e Domué; fui responsável pela criação da Associação de Agricultores de Domué – 25 de Junho, com cerca de 400 associados regressados dos campos de refugiados do Malawi e Zâmbia; preparámos um projeto de candidatura a apresentar ao PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; criámos um Centro de Alfabetização e Promoção da Mulher; pesámos crianças mal nutridas; ajudámos os padres jesuítas e as irmãs da Ordem de S. José de Cluny, únicas ajudas a toda aquela população carente de tudo…. Éramos pau para toda a colher. Tínhamos de ser. Era para isso que estávamos lá. As necessidades eram imensas. A fome, uma constante. A falta de tudo, até de sorrisos.
Na minha vida existem dois “antes e depois”: a morte do meu pai e o voluntariado em Moçambique. No primeiro, só queria trabalhar, tornar-me independente, ter o tempo todo ocupado para não pensar… Com o segundo, consegui transformar a poesia em acção, as inquietações em actos.
Quando regressei, voltei à APDL, mas por pouco tempo. Aproveitei para fazer uma Pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos.
Em 1997 fui trabalhar como Directora de Recursos Humanos de uma multinacional alemã, líder mundial de mercado. Trabalhei lá, entre outras tantas actividades paralelas, atá 2008. Entretanto, e ainda a trabalhar nessa empresa, fiz o MBA em Gestão de Empresas e milhares de horas de formação profissional.
Em 2007 e 2008, uma outra paixão, pelos animais, levou a increver-me como sócia da , a Associação que treina e entrega cães de assistência a pessoas com incapacidades e a fazer o curso “Entrenador de Perros de Asistencia para Personas com Discapacidad”, pela Fundación Bocalán, em Madrid e o “Summer Dog Camp” – Curso Intensivo para Treinadores de Cães, pela Educacão, no Estoril.
Passei a integrar a equipa de treinadores voluntários da ÂNIMAS.
Sempre com o sonho de voltar a África presente. Ainda hoje continua. É lá que gostaria de morrer.
Assim aconteceu e, em 2011, fui para Angola, outra vez para lá do pôr-do-sol. Para a Lunda-Norte, terra de diamantes e em que as populações vivem na maior das misérias e no maior dos sofrimentos, torturas e mortes. Percorri toda a província (maior que Portugal continental e arquipélagos) a dar formação sobre empreendedorismo a jovens, mulheres, sobas, sobetas, …; a dar aulas na Faculdade de Direito da Universidade Luegi N’Konde; a criar a AJELNO – Associação dos Jovens Empreendedores da Lunda-Norte e a AMELNO – Associação das Mulheres Empreendedoras da Lunda-Norte.
Aprendi muito em África. Mais do que por lá deixei. Aprendi que a poesia não serve para nada se não for acompanhada de acção. Aprendi que não podemos mudar o mundo sozinhos, mas podemos mudar o nosso mundo interior e o mundo dos que se cruzam connosco na vida. Aprendi que quando se dá com amor, recebemos em dobro. Aprendi que mais importante que ter, é ser. Ser para os outros. Para os mais frágeis, para os mais esquecidos, os mais discriminados.
Continuei sempre a escrever poemas, porque é uma forma de desabafar comigo mesma. Uma forma talvez egoísta, reconheço. Nunca mais voltei a publicar, apesar de ter participado e lido poemas que ia escrevendo nas noites de poesia do Pinguim-Café, criadas pelo meu querido amigo Joaquim Castro Caldas, e de ter incentivado e criado, na Lunda-Norte, Dundo, Angola, com amigos de lá, as tardes “A Poesia anda no ar” e que tem dado frutos e muito bons. Vários amigos de lá já publicaram livros.
Agora e, espero, no futuro próximo, dedicar-me a escrever 2 livros de memórias: um, sobre o tempo que passei e vivi em Moçambique e, outro, sobre a minha vivência em Angola. Memórias de tempos inesquecíveis, duros, profundamente duros mas muito enriquecedores, em que transformei ou substituí a poesia pela acção e tudo o que vivi me transformou a mim.
Agora sim, é tempo de voltar à palavra, mesmo que com incursões, outras, pela acção.
Obras de referência:
O livro da minha vida.
Pediram-me para dizer qual o livro que mais me influenciou na vida.
Dificilmente conseguiria dizer qual foi ou é.
Para mim, os livros construíram uma casa com várias janelas por onde eu espreito e posso passar para além delas e mergulhar noutros mundos. Sejam eles infantis, romances, históricos, de poesia, documentários ou científicos. Todos eles me abrem janelas para paisagens desconhecidas e únicas. Por isso, difícil é escolher O livro da minha vida.
São muitos, dependendo da janela que abrem. E não consigo escolher qual a melhor paisagem.
Mas, como tenho que escolher, nada melhor que recuar no tempo e falar-vos dos livros que me deram acesso a essa casa cheia de janelas para abrir.
OS CINCO!, de Enid Blyton
Era pequena, detestava ler. A minha mãe obrigava-me a ler e a fazer um resumo do que tinha lido. Pedia à minha irmã para o fazer e, quando a minha mãe me pedia para fazer o resumo, fazia o resumo do resumo que a minha irmã tinha feito.
Até um dia.
Estava doente e os meus pais tinham ido ao Porto e chegaram carregados de livros, como sempre. O meu pai foi ver-me ao quarto e deu-me um livro dos Cinco. Devorei-o. Li, em poucos dias, a colecção inteira daqueles primos e as suas aventuras: o Júlio, sempre sensato; a Ana, sempre prática; o David, sempre engraçado e brincalhão e a Zé, a maria-rapaz com quem sempre me identifiquei, com o seu cão, o Tim.
Depois, Os Sete. Depois, as Gémeas. Depois… o “vício” da leitura ficou e comecei a ler compulsivamente. À luz dos candeeiros da rua, com um candeeiro dobrado debaixo dos lençóis, no carro, com e quando havia luz pública, …
Mais tarde, autores como Dostoiévski, de quem retive os “Irmãos Karamozov”; Tolstói, “Guerra e Paz”, “Anna Karenina”; Ernest Hemingway e “As vinhas da Ira”; Almeida Garret e “Viagens na Minha Terra”; António Nobre; Mário de Sá Carneiro; Rui Belo; Herberto Helder; Fernando Pessoa; Florbela Espanca; Sophia de Melo Breyner Andersen; Vergílio Ferreira; Miguel Torga; Eça de Queiróz; John Steinbeck; Gabriel Garcia Márquez; Mia Couto; Milan Kundera; …
Muitos outros poderia citar.
Textos: Maria Irene Moreira