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#CULTURA EM CASA // APONTAMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA | JOSÉ GUILHERME PACHECO E A IMPRENSA
O Município de Paredes apresenta “Apontamentos da Nossa História” dando a conhecer os elementos históricos que revelam e constituem a particularidade do património do Concelho.
Assim, na terceira quinta-feira de cada mês, Antónia Silva, responsável pela Unidade de Património Cultural, Biblioteca e Arquivo do Município de Paredes, abre a porta da história, das curiosidades que distinguem o património cultural e os monumentos paredenses.
Esta quinta-feira, 18 de março, conheça a relação de José Guilherme Pacheco e a Imprensa.
No século XIX, e principalmente durante a segunda metade, a imprensa generaliza-se e transforma-se numa das mais relevantes expressões culturais e informativas. Em Portugal existiam dezenas de periódicos que versavam temas como política, literatura, ciência, religião, música, moda, humor, entre outros.
A título de curiosidade a Rainha D. Maria Pia, na década de 1880, assinava 39 jornais portugueses e 11 estrangeiros e gastava, em média, por ano, o dobro do ordenado anual da sua varredeira.
Os jornais eram um Importante instrumento informativo, difusor de ideias e barómetro político e social.
Em 1888, no Porto, apenas três jornais resistiam às dificuldades económicas e financeiras devido ao reduzido número de leitores agravado pelo acentuado analfabetismo, nomeadamente O Comércio do Porto, o Jornal do Porto e O Primeiro de Janeiro.
Politicamente, a morte de Fontes Pereira de Melo, a 27 de janeiro de 1887, foi inesperada uma vez que o mesmo havia assumido um papel diretivo quanto aos preparativos eleitorais do partido Regenerador, preparando uma acérrima campanha aos seus opositores Progressistas. A escolha para a liderança tornou-se uma tarefa muito difícil, abrindo-se um cisma entre os regeneradores, cuja disputa ameaçava a desintegração do partido. Era urgente trabalhar as mentes!
O Conselheiro José Guilherme Pacheco tinha a consciência do papel modelador de opinião política que o jornal poderia exercer junto da população urbana assim como no meio rural.
Assim, no Porto, o partido dos Regeneradores contou com o “Janízaro de Paredes”, ou seja, José Guilherme Pacheco, considerado um dos principais influenciadores dos regeneradores no Norte, que deste modo, com o objetivo de defender os ideais regeneradores, viu na criação de um projeto editorial a conquista do eleitorado, decidindo patrocinar a fundação de um jornal na cidade invicta, a um custo de venda avulso de 10 reis, precisamente para chegar a um maior número de leitores.
Deste modo, no início do ano de 1888, a forte influência e prestígio de José Guilherme Pacheco, foi possível angariar capital necessário à fundação de um jornal, bem como reunir bons jornalistas, fundamentais para formar o corpo redatorial, nascendo o Jornal de Notícias, com a direção de José Arroio, Aníbal de Morais e Manuel Vaz de Miranda, genro de José Guilherme Pacheco.
Refira-se que a designação de Jornal de Notícias tinha sido um título de um diário de pequeno formato, com quatro páginas, com origens anteriores, cedido aos fundadores de então.
O empenho orientador de José Guilherme Pacheco foi de tal ordem que, para além de todas as diligências para que se fundasse com sucesso o Jornal de Notícias, também, escreveu e assinou um folheto ou carta de lançamento que se distribuiu e publicou no nº 1 do Jornal de Notícias, a 2 de Junho de 1888.
“Vai publicar-se na cidade do Porto um jornal periódico chamado Jornal de Notícias, para o qual temos a honra de solicitar o valioso auxílio de V.. O Novo jornal responde a uma necessidade urgentíssima e indiscutida da defesa e propugnação das ideias e acção política do nobre partido regenerador, hoje, mais que nunca, exaltado na sanção da opinião pública pela gestão patriótica dos negócios de estado e pela isenção íntegra que distinguiu a sua administração. Nascido da mais espontânea iniciativa, o novo órgão do jornalismo portuense, é por isso mesmo alheio a quaisquer interesses particulares que porventura prenderiam e desvirtuariam o fim que ele se propõe realizar. Pelo contrário, defenderá sem tergiversações, antes com a mais sincera devoção, os interesses e as regalias populares, sempre que hajam sido ofendidos, sempre que alguma lei gravosa para as classes que mais carecem, de protecção dos poderes públicos, para as classes que pelo seu labor mais árduo contribuem para o progredimento geral, as sobrecarregua de encargos exagerados, ou as ofenda com exigências anormais. Quer pelos seus proprietários, quer pela sua redacção, o jornal que temos a honra de recomendar a V. realiza por completo a aspiração de todos os que condenam a actual e deplorável administração do país. Rogamos pois a V. a fineza da sua assinatura, esperando que se digne dispensar ao novo jornal toda a sua prestante coadjuvação. Somos com consideração José Moreira Fonseca, José Guilherme Pacheco.” Jornal de Notícias, 2 de Junho de 1888.
Este manifesto político pautou a ação editorial do Jornal de Notícias até ao início do século XX, a partir do qual tornou mais expressiva a sua estratégia noticiosa, tornando-a mais popular e acessível, conquistando outros públicos.
José Guilherme Pacheco recorreu à imprensa como um importante veículo transmissor dos ideais e ações políticas, não deixando, porém, de ter sido intransigente perante o que considerava calúnias noticiosas, não ficando passivo e esclarecendo, por escrito, como se confirma numa carta dirigida a um jornal.
A ação firme e audaz do Conselheiro José Guilherme Pacheco, tão bem caricaturado por Sebastião Sanhudo (S.S.), um dos pioneiros da caricatura no Porto, contribuiu para informar e alicerçar a opinião pública, como “rei de Paredes”, que perdurou até aos nossos dias.
Março de 2021
Antónia Silva