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APONTAMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA | ENTRE AS MONTANHAS E O TEMPO: LUGARES HABITADOS DE PAREDES NO PARQUE DAS SERRAS DO PORTO

APONTAMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA | ENTRE AS MONTANHAS E O TEMPO: LUGARES HABITADOS DE PAREDES NO PA...
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15 Junho 2023

ENTRE AS MONTANHAS E O TEMPO: LUGARES HABITADOS DE PAREDES NO PARQUE DAS SERRAS DO PORTO

Olhar para o Parque das Serras do Porto é observar lugares ainda habitados, estrategicamente localizados e moldados ao território. A área correspondente ao Concelho de Paredes é a que tem mais lugares. À freguesia de Aguiar de Sousa pertencem cinco e um à da Sobreira.

No século XI surge, pela primeira vez, a referência à Terra de Aguillar, encabeçada por um castelo que capitaneava o território, pela sua importância político-administrativa. As Inquirições de 1258 retratam Aguiar de Sousa como um território rural, com pouco mais de 100 moradores, distribuídos pelos 23 casais, provavelmente repartidos em torno do Castelo.

No século XIII, o Castelo de Aguiar de Sousa passa a ser o centro de administração judicial de uma vasta região - o Julgado de Aguiar de Sousa.

Com o crescimento demográfico surgem lugares povoados como Alvre, Brandião, Sarnada e Senande divididos por sítios com boa exposição solar, envoltos por campos e leiras de cultivo de sequeiro, junto às serras, para a prática de pastorícia e pelas margens dos rios, próximos dos recursos piscícolas e dos lameiros verdejantes.

O Castelo, ao perder a sua importância, também se foi despovoando, enquanto Aguiar implantou-se estrategicamente na encosta sudoeste da serra de Pias, numa perfeita adaptação ao declive, desenvolvendo a prática agrícola e a pastorícia nos terrenos próximos e serras adjacentes, respetivamente. Desde cedo que terá sido um dos principais aglomerados populacionais, sendo em 1758 o maior lugar com 55 fogos e 197 pessoas.

O seu crescimento urbano estruturou-se ao longo de um traçado longitudinal de N-S, ao longo do qual as habitações se organizavam e orientavam as suas portas fronhas.

O núcleo principal surge muito próximo dos campos agrícolas, principal riqueza, imprimindo uma hierarquia espacial, social e económica entre os habitantes de Aguiar, isto é, entre os proprietários e os não proprietários, entre os que davam trabalho e os que precisavam de trabalhar, situação que conduziu a que, nos meados do século XX, esse núcleo passasse a ser designado por “o lugar”, por ser o local onde habitavam os “Senhores” que alimentavam e davam trabalhos de jorna.

Alvre, por sua vez, organiza-se e cresce tendo em conta, por um lado, o rio Sousa voltando-lhe as “costas” numa estratégia defensiva e de controlo e, por outro lado, acompanha a via terrestre que, após transpor o rio, através de uma ponte de quatro arcos, também de origem medieval, atravessa a aldeia em direção à zona mineira e ao Rio Douro.

Como consequência da passagem da importante via, por onde circulavam pessoas e bens, o lugar organizou-se urbanística e arquitetonicamente de forma a se auto-proteger.

Brandião localiza-se no atual limite com freguesias do concelho de Gondomar e na margem esquerda do rio Sousa, entre as serras de Santa Iria e das Flores.

Este lugar é referenciado no Tombo da Mesa Abacial do Mosteiro de Paço de Sousa, de 1651, na descrição dos limites do couto do referido mosteiro. Em 1758 ainda é um lugar com apenas 6 fogos e 20 pessoas. A implantação do primeiro núcleo habitacional desenvolver-se-ia ao longo do primitivo eixo viário, junto às terras aluvionares do rio Sousa.

Senande está no sopé da vertente Oeste da serra da Cadela ou do Facho.

As poucas habitações implantam-se de forma elevada relativamente à envolvente, com domínio visual para o vale do rio Sousa, terrenos agrícolas e para o distante lugar de Aguiar.

Foi neste posicionamento geomorfológico que se construiu a Igreja Matriz de Aguiar de Sousa. Apesar do distanciamento relativamente aos restantes lugares da freguesia, a sua localização altaneira permite que o som do sino faça eco no mais distante dos lugares.

Em 1758, Senande tinha 17 fogos e 50 pessoas. Não obstante ser, ainda hoje, um povoado pequeno, funciona como sede paroquial, com Igreja matriz, cemitério e residência paroquial e ainda é potenciado com a sede da Junta de Freguesia.

Sarnada localiza-se na vertente Oeste do sopé da serra de Santa Iria.

O aglomerado habitacional primitivo desenvolveu-se ao longo da via/caminho principal da altura, no sentido Noroeste-Sudoeste. No século XVIII este aglomerado tinha 26 fogos e 90 pessoas.

Santa Comba é um lugar pertencente à freguesia de Sobreira. Localiza-se no sopé da vertente Este da serra de Santa Iria. Este lugar nasceu e cresceu ao longo da ribeira homónima, que corre no sentido Sudoeste-Noroeste.

Por aqui terá passado uma das principais vias da época romana, facilitando a circulação de gentes e bens entre as zonas auríferas, sobretudo durante a Idade Média, usufruindo do uso das pontes de Casconha (Sobreira) e de Alvre (Aguiar de Sousa) que permitiam transpor o rio Sousa.

Para além de se verificar uma estratégia visual, defensiva e económica na localização destes lugares, observa-se, também, uma arquitetura comum, de clara adaptação e aplicação da geologia local. A casa de pátio fechado é a tipologia arquitetónica dominante, caracteriza-se como uma estrutura habitacional fechada em si própria, impedindo o acesso e os olhares, acrescido por uma horta ou campo murado. Dentro deste logradouro observa-se ainda a eira com o lajeado em lousa e espigueiros de planta tendencialmente quadrangular. Nas construções é utilizado o xisto, quartzito e só pontualmente o granito.

A dispersão da localização destes lugares e consequente distanciamento da Igreja matriz gerou a presença de uma ermida em cada lugar, o que reflete a profunda religiosidade das populações, bem como a certeza da importância dos senhores residentes ou protetores. Desde logo, a igreja matriz tendo sido do padroado Régio foi, certamente, de fundação real, o que terá correspondido a uma importância significativa para a definição da paróquia e do seu povoamento. As insígnias e a inscrição latina na fachada da igreja, cuja (re)construção remete-nos para o século XVII-XVIII, estabelece uma ligação com a igreja Mãe e Cabeça de todas as igrejas de Roma e de todo o mundo, a Basílica de Latrão, como sinal de unidade com o Papa (SACROSANCTA LATERANENSIS ECLESIAE – Santa Igreja de Latrão).

Estes lugares por se situarem no Termo do Porto foram, em 1437-38, alvo do contributo/imposto destinado à abertura da Rua Nova do Porto e, por consequência, divididos em juradias, medindo-se a capacidade contributiva de cada um designadamente, da “alldea d’Aguiar, juradia da Cernada e juradia d’Alhery.

Acresce que a importância destes lugares se reflete, igualmente, na atribuição dos contributos, por parte dos habitantes, para o casamento da Infanta D. Isabel (filha de D. Pedro II) em 1680.

Estamos, pois, perante lugares habitados de Paredes, de origem medieval, inseridos no atual Parque das Serras do Porto (área Protegida de âmbito Regional), que são verdadeiros testemunhos vivos da história, transportando-nos para uma época distante, enquanto permanecem enraizados no nosso tempo. Não são, apenas, janelas para o passado, mas o reconhecimento da importância de preservar a nossa herança cultural e seguir as continuidades históricas.

Junho de 2023

Maria Antónia Silva

Bibliografia:

AA. VV. (2018) – Plano de Gestão do Parque das Serras do Porto. Estudos Prévios. Associação de Municípios do Parque das serras do Porto.

BARREIRO, J., (1922-1924) – Monografia de Paredes. Porto: Tipografia de Laura Couto & Pinto.

CAPELA, J. V., MATOS, H., BORRALHEIRO, R. (2009) – As Freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património. Colecção - Portugal nas Memórias Paroquiais de 1758. Braga, vol.5.

COSTA, L. V., SILVA, M. A. (2012) – Torre do Castelo de Aguiar de Sousa. Entre a matéria e o mito. Sobreposições do tempo. Lousada. Centro de Estudos do Românico e do Território. Nº3.

CUNHA, R. (1623) – Catálogo dos Bispos do Porto. Porto: Oficina PROTOTYPA, Episcopal.

FERRAMOSCA, F. (1998) – O Porto Medieval e o seu Termo (Segundo o Livro da Rua Nova). Dissertação de Mestrado em História Medieval. Porto: Faculdade de Letras da UP. (policopiado).

Tombo da Mesa Abacial do Mosteiro de Paço de Sousa, Tomo VI, Livro nº 56, 1651 (manuscrito).

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