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Medalha de Ouro do Município atribuída a título póstumo ao Comendador António Pereira Inácio
A Medalha de Ouro do Município atribuída a título póstumo ao Comendador António Pereira Inácio foi entregue à família, na sexta-feira, dia 2 de março, em Baltar, numa sessão solene, que assinalou a inauguração do Jardim de Infância Glória Leão.
O presidente da Câmara Municipal de Paredes entregou a Medalha de Ouro do Município à família Moraes, netos e bisnetos, do Comendador António Pereira Inácio, ilustres beneméritos da freguesia de Baltar, presentes na cerimónia de inauguração das instalações da instituição.
Recorde-se que o Município de Paredes aprovou na quinta-feira, 1 de março, por unanimidade a atribuição da Medalha de Ouro do Município ao Comendador António Pereira Inácio, o ilustre industrial e benemérito nascido em Baltar e fundador do centenário grupo Votorantim.
Segundo proposta aprovada em reunião camarária pública, o presidente da Câmara Municipal de Paredes, Alexandre Almeida, “propõe a atribuição ao Comendador António Pereira Inácio da Medalha de Ouro do Município, a título póstumo, regendo-se nos termos do Artigo 5º do Regulamento de Condecorações do Município de Paredes. Pela honra e dignidade que representa a distinção honorífica do Município de Paredes, o Executivo propõe a atribuição da Medalha de Ouro do Município pelo mérito industrial e filantropia ao Comendador António Pereira Inácio, ilustre industrial, distinto filantropo e benemérito do Concelho de Paredes, sobretudo pela solidariedade prestada em Baltar, na terra onde nasceu e, no Brasil, na cidade de Sorocaba, em São Paulo, onde viveu”.
Para o autarca esta condecoração a título póstumo “mais não é que a justa homenagem ao benemérito que se afirmou empreendedor no mundo dos negócios no Brasil e um justo agradecimento pelas suas contribuições relevantes na afirmação da sua terra e no auxílio aos mais desfavorecidos. O Comendador Pereira Inácio deixa um nobre legado à família que se revê nos gestos do patriarca e segue a mesma veia empresarial e a filosofia de ajudar os mais necessitados”, sublinhou Alexandre Almeida.
Notas Biográficas do Comendador António Pereira Inácio:
Das notas biográficas do Comendador António Pereira Inácio referimos que nasceu a 29 de março de 1874, na freguesia de Baltar, filho de João Pereira Inácio e Maria Coelho Pereira. Faleceu no Brasil em 1951.
Ainda criança partiu para o Brasil com o seu pai e instalou-se em São Paulo, na cidade de Sorocaba, na casa dos tios José e Lucrécia Pereira Inácio.
António Pereira Inácio trabalhou como sapateiro e frequentou a escola à noite. Em 1888, iniciou-se a trabalhar no comércio, na Casa Ferreira Júnior & Saraiva. Posteriormente, seguiu para o Rio de Janeiro para trabalhar numa empresa importadora de tecidos, propriedade do Comendador João Reinaldo Faria (português natural de Guimarães, emigrante no Brasil, dedicado à importação de tecidos).
Aos 18 anos criou o seu próprio armazém com a ajuda do pai. Em 1894, já com 20 anos deslocou-se para Botucatu, onde liderou a firma Rodrigues & Pereira, que abastecia a população ferroviária da Companhia Sorocabana. Casou-se em 1899 com Lucinda Rodrigues Viana e foi pai de três filhos: João, Paulo e Helena.
A sua atividade de empreendedor destaca-se, desde 1899 até final do 1.º terço do século XX, pelo desenvolvimento da indústria relacionada com o algodão (fundou a fábrica Santa Helena), com o objetivo de aproveitar as suas sementes e produzir óleo vegetal, adquiriu também uma fábrica de cimentos, e adquiriu a Lusitânia, empresa dedicada à preparação, fiação, tecelagem e estamparia do algodão.
Em 1915, adquiriu uma fábrica de tecidos em São Paulo, que viria a ser a sede da sua empresa. Em 1918, fez a aquisição do extinto Banco União, uma fábrica de tecidos nos arredores de Sorocaba (São Paulo), formando assim a Sociedade Anónima Fábrica Votorantim, que presidiu até à sua morte, em 1951.
A Votorantim foi fundada em 1918 pelo imigrante português no Brasil, António Pereira Inácio.
A vida empresarial do Comendador Pereira Inácio passou ainda pelos Estados Unidos, onde já homem de negócios de sucesso no Brasil, trabalhou como operário numa fábrica para entender o funcionamento das máquinas. Uma aventura que durou um ano. Tornou-se o 1.º presidente do Centro das Indústrias de Fiação e Tecelagem, nos Estados Unidos.
Em 1923, recebeu a Comenda da Ordem de Cristo de Instrução e da Benemerência e a de Mérito Industrial, e, no Brasil, recebeu, em 1936, a Comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul, atribuída pelo presidente Getúlio Vargas. Empregava nessa época mais de 10 mil operários e empregados, que viviam junto das fábricas em habitações confortáveis e dispunham de creche, escola maternal, escola primária, campo de jogos, teatro, igreja, farmácia, consultório médico, biblioteca, numa área superior a 24 mil hectares, servida por quatro estações de caminho de ferro, sendo que uma das estações se chamava “Nova Baltar”.
O ilustre industrial dotou também o sul do Estado de São Paulo com a primeira rede de telefones e eletrificou a estrada entre Votorantim e Sorocaba.
Reconhecido como o “Rei do algodão e do cimento” do Brasil, dedicava-se também à produção de laranja, que exportava para Inglaterra.
Ainda no Brasil, colaborou com o Hospital de Santo António, o Hospital Santa Lucinda, a Faculdade de Medicina e a Santa Casa da Misericórdia de Sorocaba e combateu o analfabetismo (todos os seus operários aprendiam a ler e a escrever).
Em Portugal, a sua atividade de benemérito refletiu-se no envio de avultadas remessas para promover o desenvolvimento de Baltar e de localidades limítrofes.
Da biografia do Comendador Pereira Inácio salienta-se a criação e organização da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Baltar e a oferta à Misericórdia de Paredes, em 1931, de “5 contos” para a construção do Hospital, fazendo nova doação em 1933, o que lhe valeu a nomeação e a colocação do seu retrato na galeria dos irmãos beneméritos.
Propôs ainda a criação da Sociedade Humanitária de Salvação Nacional, “com o objetivo de ajudar os mais pobres da freguesia de Baltar, tendo para o efeito angariado fundos ou custeado na íntegra a construção ou organização de escolas e de casas para os mais pobres, de uma cantina permanente, de cursos escolares de alfabetização gratuitos e o fornecimento de agasalhos aos necessitados, a instalação elétrica e a maternidade, a creche, onde era distribuída uma refeição ao meio-dia, quer às crianças que a frequentavam, quer às que não iam à escola, num custo total que ultrapassava anualmente os 100 contos”.
A creche D. Lucinda Pereira Inácio, em Baltar, foi inaugurada em 1935 e destinava-se às crianças mais pobres. A creche e a cantina da escola funcionavam nos anexos à casa de habitação do Comendador. Este emigrante baltarense a poucos metros da creche, numa clara homenagem à filha, designou de Vila Helena, a casa onde o comendador vivia nas suas visitas a Baltar.
Fonte das Notas Biográficas: Profª Alda Neto
Foto: Acervo Memória Votorantim