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Apontamentos da Nossa História | Alminhas do Concelho de Paredes
As Alminhas são monumentos religiosos de manifestação popular de pequena dimensão, construídos com o propósito de pedir orações ou oblações pelas almas dos defuntos e estão representadas, em painéis colocados numa edícula, em forma corporal envoltas por chamas a penar no purgatório. Atualmente são consideradas património artístico-religioso.
No concelho de Paredes o número destes monumentos de arquitetura religiosa ultrapassa as seis dezenas. Não fogem muito à realidade do resto do país quanto ao uso dos painéis de azulejos contemporâneos, à arquitetura, ao culto, ao vandalismo, à conservação ou à falta dela.
A Alminha mais antiga que se conseguiu identificar está edificada em Baltar na rua da Fonte e terá sido construída em 1783. Atualmente tem um painel em azulejos representativo de São Miguel que substituiu a pintura original em madeira (fig_1). Na freguesia de Parada de Todeia temos uma Alminha de dupla face e desconhece-se a nível nacional haver outro caso semelhante. É um monumento construído de forma isolada sobre três degraus que tem ao centro um pilar que suporta um nicho duplo. Na face, voltada para a rua principal, está representada a Nossa Senhora do Carmo e na face posterior o orago da freguesia, São Martinho, virado para o acesso à Igreja (fig_2).
O mais comum, é encontrar nos nichos painéis figurativos em azulejos contemporâneos, porém, no concelho de Paredes ainda se podem ver retábulos pintados em madeira ou ardósia (fig_3). Foram também registadas Alminhas em forma de pequenas capelas (fig_4). Em Cete e em Vilela existiu pelo menos mais uma em cada freguesia, mas foram demolidas e não se conhece a existência destes monumentos em Beire, Louredo e Vandoma. Em Gondalães e em Sobrosa são conhecidas Alminhas dentro de propriedades privadas, sendo que nesta vila é o único exemplar conhecido na freguesia. Na toponímia do concelho de Paredes o culto às Almas também não foi esquecido e é referenciado em 10 ruas, 5 travessas, 1 ruela, 1 rampa e 1 largo distribuídos por Baltar, Gandra, Gondalães, Lordelo, Mouriz, Parada de Todeia, Rebordosa, Recarei, Sobreira e Vandoma.
Sem um estilo arquitetónico perfeitamente definido e apesar de terem diferenças estruturais entre si, as Alminhas acabam por ser perfeitamente identificáveis na paisagem. São monumentos simples, normalmente elaborados por canteiros da região. As Alminhas, geralmente, eram construídas na berma de um caminho, no coroamento de um muro ou até em forma de nicho nas paredes e nos muros das casas. Estamos perante uma arquitetura vernacular e de modo transversal a todos os modelos há uma edícula e no seu interior era colocado um retábulo pintado, em madeira ou em ardósia, com a imagem idealizada do que seria o purgatório. Atualmente, devido ao desgaste provocado pelo passar dos anos, a maioria destes painéis foram substituídos por azulejos.
Nos retábulos e painéis das Alminhas está quase sempre uma frase piedosa, sendo a mais comum “Ó VÓS QUE IDES PASSANDO, LEMBRAI-VOS DE NÓS, QUE ESTAMOS PENANDO”. Aparece também “P. N. A. M.” referindo-se às orações do Pai Nosso e da Ave Maria. As Alminhas tinham de forma permanente pelo menos uma lamparina ou uma vela acesa e oferendas, como esmolas (para celebrar missas), azeite (para alimentar a lamparina) ou flores. Era hábito ao passar pelas Alminhas, tirar o chapéu, fazer o sinal da cruz e orar.
Podem até passar despercebidas e sem monumentalidade, mas a presença delas em espaço público é um permanente avivar da memória coletiva de um povo profundamente piedoso e estes singelos monumentos foram testemunhas de várias gerações que por lá passaram para colocar uma oferenda ou orar pelos defuntos.
Monsenhor Moreira das Neves deixou-nos escrito no Cancioneiro do concelho de Paredes – Terra Verde – as seguintes palavras:
Alminhas da minha Terra:
No Purgatório a penar:
São irmãs das nossas almas.
Esquecê-las é pecar.
Alminhas da minha Terra:
O céu não há-de tardar.
BIBLIOGRAFIA:
BABO, Francisco de. Alminhas portuguesas. Ermesinde, Colégio de Ermesinde, 1957
RODRIGUES, Olinda Maria de Jesus - As Alminhas em Portugal e a Devolução da Memória. Estudo, Recuperação e Conservação. (Texto policopiado) Lisboa, vol. I, 2010. [Dissertação de Mestrado]. (consultado a 10 de junho de 2022) Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4563/2/ulfl081918_tm_1.pdf
FOTOS:
João Vieira