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- Apontamentos da Nossa História | O jardim do Palacete da Granja, Paredes. Contributos para a sua história.
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Apontamentos da Nossa História | O jardim do Palacete da Granja, Paredes. Contributos para a sua história.
No centro da Cidade de Paredes localiza-se a emblemática Casa da Cultura e o seu jardim. É um local de utilização semipública e que sofreu várias mudanças e intervenções ao longo dos anos, um pouco de acordo com as inúmeras funções que o edifício foi alvo, bem como o seu espaço envolvente. Não obstante, o que resta do jardim original pode caracterizar-se como testemunho identitário e histórico.
Concretamente, este jardim situa-se em ambiente urbano, no princípio da Avenida da República, do seu lado esquerdo, no sentido ascendente. Atualmente, permite-nos realizar eventos sociais e culturais, demonstrações de arte pública como ainda, percorrer a pé todos as pequenas áreas e vislumbrar diferentes variedades de espécies arbóreas e arbustivas e, igualmente, o edifício dos finais do século XIX, designado por Palacete da Granja.
O Palacete da Granja surge graças a Joaquim Bernardo Mendes. Natural de Castelões de Cepeda, residiu muitos anos na Baía, Brasil, onde prosperou e se casou com D. Deolinda Francisca Guimarães da Silva. Em 1881 regressou a Portugal, altura que iniciou a construção do edifício que ficou concluído em 1883, no antigo lugar do Souto e onde passaram a residir.
Após a morte de Joaquim Bernardo Mendes, o Palacete ainda foi habitado por familiares, tendo posteriormente funcionado como Paços do Concelho até 1942. Mais tarde, foi comprado e oferecido à Misericórdia de Paredes tendo passado, também, a ter funções escolares de 1967 até 1986.
Relativamente ao edifício, este enquadra-se no tipo de “Casas Brasileiras”, no qual ressaltam a beleza arquitetónica, expressa na harmonia das formas. As fachadas principais e laterais são revestidas a azulejos de alto-relevo, de cor amarela e branca, contornados por um friso idêntico, provenientes da fábrica de Massarelos.
Quanto ao jardim desconhece-se como estaria organizado à data da sua conceção, que corresponderá, certamente, à época da construção da casa. Porém, para melhor compreensão consultaram-se registos fotográficos e bibliográficos que nos permitissem delinear a sua evolução histórica.
Assim, as fotografias permitiram-nos encontrar elementos estruturais e decorativos característicos da época do romantismo, associados também a eventual influência cultural brasileira, pelo facto dos seus proprietários serem “brasileiros de torna-viagem” e ainda possíveis inspirações inglesas.
Estruturalmente, o palacete enquadrava-se num logradouro cercado por muros e gradeamento (fundição de Massarelos), classicamente circundado por um belíssimo jardim. Destaca-se a presença de uma estufa e ainda é rematado nas extremidades da frente voltada para a via pública por dois mirantes/caramanchões, que completam o romantismo do conjunto, conforme observamos em fotografia datada de 1904.
A existência de dois lagos a flanquear a fachada principal com repuxos permanentes (Neto 2021), reforçam a presença da água como um elemento quase sempre presente no jardim romântico pela sua sensação de frescura e movimento, pelo que serão elementos que se mantiveram, apesar de desativados, como se comprova nas fotografias da década de 70.
No que respeita à vegetação, consegue-se identificar a existência de palmeiras com diferentes portes de crescimento (fotografia datada do início do século XX e outra publicada em 1947), árvores que surgem com muita frequência nos jardins de emigrantes brasileiros. A sua plantação deve-se à necessidade de exibir espécies exóticas menos comuns na paisagem portuguesa da época.
Pela densidade e organização de espécies arbustivas, ainda que muito jovens, observáveis nas fotografias do princípio do século, leva-nos a crer estarmos perante uma certa influência de jardins ingleses. Identificam-se arranjos arbustivos, tendo possivelmente, por base o conceito de bordadura vivaz (mixed-border), delimitados pelo muro principal, originando recantos de contraste luz e sombra que proporciona espaços de fruição, meditação e repouso.
As Camélias são outro elemento estrutural do jardim como testemunham as remanescentes no jardim atual. Numa análise comparativa entre as fotografias antigas e a atualidade é possível associar a localização das cameleiras, constatando a sua presença centenária, conseguindo resistir às diversas mudanças e funções do espaço e do palacete. Uma outra evidência que terá chegado aos nossos dias, poderá ser a monumental sequoia, cujo porte aponta para a sua longevidade.
Porém antes da requalificação verifica-se um abandono e alguma descaracterização do lugar, tendo havido fortes alterações de adaptação devido às funções escolares, nomeadamente, espaços desportivos, de acordo com a fotografia de 1976.
Contudo, com a requalificação do edifício para Casa da Cultura preservou-se um pouco da sua génese, mantendo uma memória e testemunho de um estilo e de uma época.
Março 2022
Flávio Marques Ribeiro
Bibliografia
AMARAL, Artur Micael; BESSA, M. Conceição L. (2019) – Camélias centenárias do “Palacete da Granja”. Casa da Cultura de Paredes. Revista Cultural “Orpheu Paredes”.
Coord. Beatriz Meireles. Paredes: Município de Paredes, p.42-45.
BARREIRO, J., (1922-1924) – Monografia de Paredes. Porto: Tipografia de Laura Couto & Pinto
LEAL, Joaquim da Rocha (2002) – História Concisa da Santa Casa da Misericórdia de Paredes. Paredes: Santa Casa da Misericórdia de Paredes
NETO, Alda (2021) – As casas de Brasileiros no concelho de Paredes. Paredes: Município de Paredes e Misericórdia de Paredes.
Jornal - O Progresso de Paredes. Nº1747 - 20-06-1964
Fundos particulares:
Bilhete Postal - Fundo particular de Carlos Ferraz
Fotografia – Fundo particular de Flávio Marques Ribeiro
https://aoencontrodopassado.blogs.sapo.pt/
Fotografia Casa da Cultura de Paredes - Maximiano Miguel