Apontamentos da Nossa História | O regresso aos primórdios do futebol em Paredes: o Club Paredense

Falar sobre o desporto no geral, e mais concretamente daquele que, indiscutivelmente, é o que maior projeção tem, o chamado desporto rei, o futebol, é, fruto da sua dimensão, motivo aliciante mais do que suficiente para cativar o interesse da maioria das pessoas.

O traçado histórico da implementação, difusão e percurso deste desporto no território paredense é ainda um território fértil, não obstante algumas sementes terem sido já colocadas, e também, por variadas razões (falta de arquivos das associações, ou pelo menos desconhecimento da sua localização; pouco desenvolvimento bibliográfico desenvolvido; entre outras), um esforço árduo e, por vezes, inglório e infrutífero.

No entanto, e para que o leitor do presente artigo não chegue ao final do presente texto e sinta que o título é apenas um chamariz sensacionalista, alertamos que o Clube Paredense não está, pelo menos diretamente, ligado à prática do futebol.

Porém, face a algumas publicações menos explicitas, talvez por confusão com o Paredense Sport Club, um dos clubes que deu origem ao União Sport Clube de Paredes em 1924, e pela abordagem de fontes até à data inéditas, é, sem dúvida, importante esclarecer alguns aspetos relativos ao Club Paredense e abordar o seu percurso.

O Club Paredense, atendendo ao postulado nos seus estatutos, tem por finalidade proporcionar aos associados “honestos passatempos por meio da convivência quotidiana, leitura, reuniões de famílias, saraus, jogos lícitos, etc”.

A componente desportiva nunca foi uma das suas missões ou ambições, no entanto, podemos indicar que indiretamente existe uma ligação a esta vertente, uma vez que o Club Paredense se fundirá com o Sporting Club Paredense formando o Assembleia Sportiva de Paredes, estando os dois últimos ligados à prática desportiva.

Quando falamos de uma abordagem histórica a uma associação surgem-nos algumas questões centrais: qual a data de fundação e, neste caso, extinção; onde funcionou; quais as finalidades da sua criação; o que a difere de associações similares, ou seja, quais as suas particularidades que tornam o seu estudo de relevante interesse.

Relativamente à data da fundação era avançada pela maioria (dos poucos) que deixou apontamentos sobre a agremiação o ano de 1885. Esta data relacionar-se-á com a data dos seus estatutos. De facto, a cópia dos estatutos depositada no Arquivo Distrital do Porto, aí existente por ter sido enviada uma cópia para aprovação para o Governo Civil do Porto, agrega uma cópia da ata da sessão de 13 de setembro de 1885 da Assembleia Geral do Club Paredense onde estes foram aprovados.

A cópia da ata é uma importante fonte, até porque os livros de atas da Direção conhecidos no Arquivo Geral da Câmara Municipal de Paredes, apenas iniciam em 1890.

A ata refere que se encontra reunida a assembleia nas salas do Club Paredense, por si só um indicador importante. Existe uma forte possibilidade de o clube estar já constituído, uma vez que já tinha sede e que os estatutos vinham apenas regular uma realidade já estabelecida.

Quanto à sua sede, sabemos que se localizava num imóvel arrendado a António Ferreira Bento na vila de Paredes, embora não consigamos precisar exatamente o edifício onde o clube desenvolvia a sua atividade.

Em 1896 é levado a discussão as carências de espaço para a realização das atividades do clube concluindo-se que a sede atual, por mais obras que se encetassem, nunca seria suficiente para suprir as necessidades.

Neste sentido, procurou-se outro edifício e iniciaram-se contactos com Dª. Engrácia Ferreira Neto Meireles Freire, que se encontrava a construir uma casa a nascente do Parque José Guilherme, para arrendar o piso superior para servir de sede. O contrato de arrendamento foi assinado em novembro de 1896 com uma renda de 90 mil réis anuais, dispensando a senhoria 12 mil réis para obras de adaptação do edifício às carências de funcionamento do clube.

Como já foi referido, as finalidades do clube passavam por proporcionar aos seus associados passatempos que se traduziam sobretudo pelos jogos lícitos, mais concretamente o bilhar e jogos de cartas, e pela disponibilização e organização de eventos socioculturais como os saraus, reuniões familiares ou soirées. Estas festas eram afamadas, como podemos ver pela menção do Informador Comercial do Porto, evidenciada pela Monografia de Paredes, quando refere que em Paredes existe um clube “cujas festas deixam a todos gratas recordações e em todos os concelhos vizinhos é falada a fidalguia com que ali se recebem os seus convidados”.

Outra evidência da atividade da sociedade é referida na Monografia de Paredes, quando o autor se reporta a uma notícia do jornal O Paredense sobre o cortejo da trasladação e exéquias do Conselheiro José Guilherme Pacheco para Paredes, que versa assim: “A seguir o préstito dirigiu-se para a igreja paroquial, assim organizado: (…) o club paredense ia também representado …”. Na consulta das atas das reuniões da Direção não existe nenhuma menção a esta participação, que se estranha, tendo em conta outras datas assinaláveis e que contaram com o envolvimento do clube. A título de exemplo podemos enumerar a receção ao conselheiro Campos Henriques ou a soirée dada em comemoração da colocação da primeira pedra do novo tempo religioso de Castelões de Cepeda.

Uma das particularidades que torna o seu estudo de elevada importância, para além de, pelo menos até à data de criação do Sporting Club Paredense, ser a única instituição do género na vila de Paredes e muito provavelmente a primeira, são os associados que constituíam o Club Paredense.

Podiam ser membros do clube os elementos do sexo masculino com mais de 21 anos ou emancipados que fossem legalmente admitidos (os não emancipados podiam ser admitidos desde que autorizados pelos pais ou tutores que se responsabilizassem pelas suas dívidas). Para ser sócio era necessário ter bom comportamento e decente posição. O quesito da decente posição, quando atentamos nos nomes dos seus sócios, é absolutamente central. Esta condição levaria a que a “nata da sociedade” se encontrasse neste espaço e, por inerência, se tornasse num espaço privilegiado de discussão dos destinos da sociedade paredense e palco de algumas dissensões demonstrativas das posições políticas dos seus associados, funcionando como um verdadeiro espelho da realidade política do concelho.

O Clube Paredense, segundo o veiculado na Monografia de Paredes, irá ser extinto em agosto de 1918 por fusão com o outro clube entretanto criado na vila de Paredes, o Sporting Club Paredense.

Da sua fusão nasce o Assembleia Sportiva de Paredes. Sabemos, ao atentar nos livros de atas da Direção do Clube Paredense, que já em 1909 uma comissão do Sporting tinha abordado o Club Paredense para uma possível fusão. O assunto resfriou até 1916 quando nova iniciativa, desta feita promovida pelo Club Paredense, vem retomar os contactos para a fusão dos dois clubes existentes na vila. Alguns dos argumentos utilizados eram os de que a vila de Paredes era pequena demais para a existência de dois clubes e a fusão permitiria reduzir custos e fazer frente à crise financeira que, pelo menos no Club Paredense, se fazia fortemente sentir.

Infelizmente, e possivelmente relacionando-se com esse facto, as atas da Direção do Club Paredense findam no ano de 1918, o que nos impede de confirmar a consumação da fusão. No entanto, encontra-se postulado nas atas que é vontade dos dois clubes a sua fusão, pelo que é plausível a data avançada pela Monografia.

Texto: Vasco Santos

Referências Bibliográficas

BARREIRO, José do - Monografia de Paredes. Paredes, Portugal: Tipografia Mendonça, 1922-24.

SILVA, Ivo Rafael– Paredes e a Primeira República: Vida social e desportiva. O Paredense. Nº. 99 (2019), p. 19

SILVA, Ivo Rafael – Clubes Extintos do Concelho. O Paredense. Nº. 165 (2021), p. 19

Fontes Manuscritas:

Arquivo Municipal de Paredes, Atas da Direção do Clube Paredense, Livro 1

Arquivo Municipal de Paredes, Atas da Direção do Clube Paredense, Livro 2

Arquivo Distrital do Porto, Estatutos do Club Paredense - PT/ADPRT/AC/GCPRT/J -C/114/00806