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Apontamentos da Nossa História | A mina de estanho de Rebordosa

Apontamentos da Nossa História | A mina de estanho de Rebordosa
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18 Janeiro 2024

Desta vez, os Apontamentos da nossa História vão dar a conhecer um pouco sobre as Minas de Estanho de Rebordosa, apresentando alguns dados históricos do seu percurso enquanto concessão mineira, que foi alvo de interesse e de exploração por várias empresas.

A Mina N.º2 – Rebordosa (Lugar de Aboim), conforme identificada na lista de minas concedidas no continente entre 1836 e 1962 fica situada no Lugar de Aboim em Rebordosa, correspondia a um jazigo de estanho e tinha de área 50 hectares.

Em 23 de março de 1839 foi assinado o decreto de concessão definitiva e mais tarde a sua publicação no Diário do Governo, N.º 180 de 01 de agosto de 1839 onde se pode ler:

“Cópia do Auto de entrega de uma mina de Estanho sita junto ao logar de Aboim Freguesia de Rebordosa, Concelho de Paredes, à Companhia Allen, Maia, Cunha, Brozone Lima, e Companhia, da Cidade do Porto; e demarcação do terreno necessário para laborar a mesma Mina…”

Estiveram também presentes na assinatura desse auto Gaspar da Cunha Lima, Engenheiro Civil, designado pela Companhia e aprovado pelo Governo para dirigir os trabalhos de mineração e, ainda, António Ferreira Baltar, da freguesia de Vandoma e Manuel Carneiro Pinto da Freguesia de Rebordosa, “nomeados pela Camara Municipal para medidores, informantes da demarcação do terreno necessário para a mina”.

De acordo com o referido Diário do Governo pode ainda ler-se como foi demarcada a área “Que sendo a situação da Mina em um pequeno terreno inculto no logar da Aboim, e próximo a um Ribeiro, e considerando este terreno como ponte de operações para o serviço da Mina, julgou necessário demarcar-se de Poente a Nascente o espaço de terreno que vai desde a Igreja de Gandra, freguesia do mesmo nome, até à Capella de S. Domingos de Besteiros, o qual terá de extensão uma legoa portugueza pouco mais ou menos; e partindo do Norte a Sul desde a Igreja de Lordello para a Igreja de Baltar, outra igual distancia, compreendendo assim esta demarcação uma legoa portugueza quadrada.”

No entanto é importante mencionar que a Mina de Rebordosa já havia sido referida em 1836 pelo Barão D’Eschewege, que dizia “… que para poder a Administração começar (…) a lavra de estanho junto ao lugar de Rebordosa, distante duas legoas de Vallongo, nos anos de 1826 e 1827…”. Segundo o Barão D’Eschewege estas minas poderiam ter sido vantajosas, não fosse a situação política da época ter levado ao fim dos trabalhos. A lavra de estanho de Rebordosa desde 1827 até meados de 1828 tinha dado 930$200 reis de despesas à Administração das Minas e nenhuma receita. No entanto existiam “recolhidas n’hum armazém 500 arrobas de Estanho com o valor de 1:000$00 reis”.

No seu Projecto de Lavra, de dezembro de 1876, E. Schmith diz que “A mina d’estanho de Rebordosa pertencem a mesma Companhia Perseverança e tiveram uma lavra muito ativa de 1850 a 1856 inclusivamente. (…) No principio da exploração em Rebordosa, o estanho era extrahido da lavagem das areias espalhadas em redor do jazigo e provenientes da fácil decomposição do granito. Depois a zona de granito estanífero foi lavrada por poços e galerias abertas em todas as direções e logo que a riqueza metalífera ia diminuindo tratava-se d’abrir novas boccas d’extracção.”

Os trabalhos realizados pela Companhia Perseverança durante o ano de 1864-65 incidiram na realização de um poço designado por X e destinado a alcançar a zona do granito estanífero e uma antiga galeria de esgoto H que avançou para baixo dos trabalhos velhos, no entanto os trabalhos haveriam de parar. Em 1867, tentou a mesma Companhia dar continuidade aos trabalhos com o aprofundamento do poço X , que atingiu os 25 metros, e prolongando a galeria H (que não chegou a encontrar a massa estanífera), mas estes trabalho durariam apenas 18 meses, voltando a parar.

E. Schmith propõe então “Este projecto (de lavra), segundo o meu parecer, não pode ser outro senão a continuação do mesmo poço mestre X preparado, há muito tempo, para descer a 45 ou 50 metros e mediante as galerias M,M,O,O lavrar sem risco e sobretudo mais conforme a prudente e acertada exigencia da Lei de minas, esta zona estanifera que ficou tantos anos desprezada.”

A Companhia Perseverança apresenta um requerimento a solicitar que seja alterada a demarcação da mina de estanho de Rebordosa existente desde 23 de maio de 1839, ficando assim a concessão sujeita à lei em vigor na época. Deste modo, o pedido foi aceite, sendo publicada, no Diário do Governo n.º75, de 05 de abril de 1877, uma nova demarcação que compreende “o rectangulo ABCD com área de 50 hectares, delimitado pelo seguinte modo: Da aresta norte da casa de Victorino Jorge tire-se uma recta de 400 metros na direcção N. (magnético) e d’esta extremidade levantem-se perpendiculares de 250metros para E. e O., pontos A e B, da referida aresta da casa de Victorino tire-se outra recta de 600 metros para sul e d’este extremo levantem-se perpendiculares também de 250 metros para O. e E., pontos C e D.”

Em maio de 1945 a Circunscrição Mineira do Norte ordena à Companhia Perseverança, que ainda era a concessionária da Mina “Rebordosa”(Lugar de Aboim), que seja fornecida a direção. Ainda nesse mesmo ano, em novembro, declara a mina abandonada, mas que pode ser novamente requerida em harmonia com o decreto-lei n.º 18713 de 1 de agosto de 1930.

No entanto, em 1951 é atribuído o Alvará Concessão n.º4877 à Sociedade Mineira da Guarda, Limitada, por tempo ilimitado, com algumas obrigações que a concessionária deveria cumprir, tais como “fornecer os minérios necessários para a laboração das indústrias que, visando a sua utilização, existem ou venham a existir no País, ao preço corrente oficial…”. Em 28 de fevereiro de 1956 é publicado no Diário do Governo, n.º 50, III série, o pedido de homologação da transmissão da concessão mineira de Rebordosa pela Emirel – Minas de Rebordosa, L.da, que foi concedida por tempo ilimitado.

Em 1959, no Diário do Governo, n.º 126, III Série, é feita a substituição da demarcação da Mina de Rebordosa, publicada anteriormente em decreto no Diário do Governo nº.75 de 05 de abril de 1877, em que a demarcação da concessão passa a ser constituída por um retângulo definido pelos vértices ABCD definidos por coordenadas planas ortogonais com origem no Castelo de São Jorge e com uma área de 50 hectares.

Existe ainda, no Livro de registos de Minas da Câmara Municipal de Paredes, o registo, em 12 de junho de 1968, da descoberta da existência de quartzo e feldspato no sítio “Campo Novo”, por Carlos Gonçalves Ferreira, um comerciante da freguesia de Antime, do concelho de Fafe. Após perceber a existência da concessão abandonada das minas de estanho de Rebordosa compromete-se a realizar a limpeza das galerias antigas e a recolher amostras para análise. Caso os resultados assim o permitissem procederia ao estudo completo do jazigo com vista a elaboração de um plano de lavra.

Atualmente, a Mina de Rebordosa, em termos geológicos é descrita como um jazigo com ocorrências de Estanho e/ou Volfrâmio, ligadas a granitos. Estaria localizada no Lugar de Aboim nas proximidades do Complexo Desportivo de Azevido, e da “Ponte Romana”.

Considerando o interesse que despertou no passado, e que se prolongou por mais de um século, seria pertinente, no futuro, um estudo mais aprofundado da história desta mina.

Registo de mina

Janeiro de 2024

Natália Félix

 

 

 

Referências bibliográficas

Barão D’ Eschwege (1836) - “Memória sobre a história moderna da administração das minas em Portugal”, Edição fac-similada do livro original, 2007

Câmara Municipal de Paredes – Livro de registo de minas N.º4, iniciado em 13/3/1959 e findo em 1979

DGGM, n.º 2 - Direcção Geral de Geologia e Minas - Processo n.º 2, Rebordosa (Lugar de Aboim)

Minas concedidas no Continente desde Agosto de 1836 a Dezembro de 1962. Lista cronológica e índice alfabético, Lisboa, ME, 1963, 2" edição

PITA, P., AMORIM, A. B.- A Cartografia Geológica Presente no Arquivo da DGEG Norte Referente a Minas e Pedreiras do Norte de Portugal Paulo Pita Ana Bela Amorim, disponível online: https://www.fc.up.pt/biblioteca/ibercarto/storage/docs/programa/a-cartografia-geologica-presente-no-arquivo-da-dgeg-norte-referente-a-minas-e-pedreiras-do-norte-de-portugal.pdf

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