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Apontamentos da Nossa História | Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal: a história num azulejo em Paredes

kiev
21 Novembro 2025

«Portugal de lés a lés sentiu e vibrou com o Terceiro Centenário da Proclamação em Cortes Gerais, por mandado de D. João IV, de Maria Santíssima, no mistério de Sua Imaculada Conceição como Padroeira de todo o Império.» O ano de 1946 era ainda uma recordação recente e a revista Flama, na edição de janeiro de 1947, fazia assim emotivo eco do mencionado tricentenário.

Em 1646, portanto, seis anos após o fim da união real de Espanha e Portugal, D. João IV proclamou a Imaculada Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal essencialmente por três razões:

Legitimação política da nova dinastia: após a Restauração de 1640, a Casa de Bragança necessitava de reforçar a sua autoridade. A consagração do reino à Imaculada apresentava a nova casa reinante como escolhida e protegida por Deus.

Unificação religiosa e simbólica do país: o culto da Imaculada era extremamente popular em Portugal. Projetar Maria como Rainha ajudaria a reforçar a unidade nacional em plena guerra contra Espanha.

Agradecimento pela “proteção” atribuída ao sucesso da Restauração: a vitória de 1640 e a consolidação política subsequente foram interpretadas como sinais da assistência divina, levando à decisão simbólica de entregar a coroa a Maria e fazer o rei renunciar ao uso da coroa na cabeça.

A proclamação da Padroeira de Portugal, por parte de D. João IV, fazia parte de um seu programa político que pretendia a aproximação com a nobreza, o clero e o povo. O poder precisa sempre de apoios. Por outro lado, com essa proclamação, D. João IV demarcava-se da onda religiosa protestante que se espalhara no norte da Europa. A unção papal era precisa.

Depois deste nosso temporalmente longínquo voo de pássaro, voltemos a Paredes e ao ano de 1946 onde foi espalhado em superfícies parietais do Concelho um apelativo e belo painel de azulejos, mostrando Nossa Senhora da Conceição, com a menção das datas que constituem o Tricentenário da Coroação da Virgem. Nossa Senhora é representada numa equilibrada e visualmente eficaz composição que remete para a arte do Império Bizantino. Não envolta em dourado, mas pintada no barro vidrado em tons de azul, esta Nossa Senhora é evidenciada lembrando a Virgem do plano iconográfico do interior da Catedral de Kiev. Podemos deduzir que foi intenção do artista que ainda desconhecemos, ou do patrono, realçar a Virgem como intercessora e ligação ao mundo celestial com a dignidade de imperatriz, ao lado de Cristo, o Imperador. O painel quereria também lembrar uma muito antiga devoção dos portugueses.

Mesmo apontando para o mundo celestial, o Tricentenário associava épocas distintas e os seus poderes terrenos. Em 1946, Portugal vivia sob o Estado Novo, que pretendia também promover uma união nacional entre povo, clero e burguesia.

Deve-se aqui transcrever dois parágrafos do livro “São Miguel de Gandra ao longo da História” de Carla Sequeira e Joana Lencart, editado em 2025, pela Junta de Freguesia de Gandra. Faz-se mais luz sobre o painel: «Após o eloquente e empolgante movimento pela dupla celebração dos centenários (Independência de Portugal em 1139 e a Restauração da Independência em 1640), protagonizado pelo Padre Moreira das Neves (…) Em 1946 foi erguido o Monumento da Independência. Defronte da cruz do cruzeiro foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Na base do cruzeiro, foram registadas as célebres palavras de Moreira das Neves Uma Cruz basta para dizer na história quem é Portugal”. Possuía nos seus degraus uma lápide metalizada que fazia referência a esta dupla comemoração, mas que, entretanto, foi removida.

Gandra respondia dessa forma, ao apelo do Padre Moreira das Neves e festejava, sendo a primeira localidade a tê-lo feito, o tricentenário da coroação de Nossa senhora da Conceição como rainha e padroeira de Portugal. Este acontecimento ficou ainda marcado pela colocação, nos caminhos da freguesia, de quadros em azulejo com Nossa Senhora da Conceição, oferecidos pelo Padre Moreira da Neves (…)»

O negrito no final da citação é nosso, frisando, pensamos, uma importante pista para abrir total conhecimento sobre estes painéis de azulejos que se espalham pela freguesia de Gandra e por outros pontos do Concelho de Paredes, designadamente numa casa da Praça José Guilherme, numa casa particular ao nº 48 (visível do exterior) ou numa parede externa da Igreja de São Tomé de Bitarães.

Não só o empenho e entusiasmo dessa figura relevante para Paredes e todo Portugal que foi Monsenhor Moreira das Neves proporcionou este painel de azulejos. Devoção e grande força anímica dos paredenses, nas vertentes eclesiástica e civil, estiveram envolvidos na celebração e confirmação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira e Rainha de Portugal.

A história deste azulejo demonstra, uma vez mais, como o azulejo constitui uma das mais importantes manifestações artísticas e comunicacionais de Portugal — e, naturalmente, também do Concelho de Paredes.

Novembro de 2025

Alberto Guimarães

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