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'Apontamentos da Nossa História' | Adélia Coelho de Barros: uma poetisa paredense




A ocorrência da efeméride dos 150 anos do nascimento de Adélia Coelho de Barros é o mote para nos debruçarmos sobre a vida e a obra desta paredense, cujo nome tem estado praticamente adormecido na bruma do tempo.
Nasceu a 22 de Agosto de 1874, no lugar de Tourilhe, freguesia de Sobrosa. Foi a segunda das três filhas de Francisco José Coelho de Barros (c. 1835-1901) e de Ana Augusta de Meireles (1851-1909). Por via paterna, tem ascendência na Casa do Outeiro, em Louredo, e na Casa da Vila, em Cristelo. Pelo lado materno, encontra origens nas casas dos Ferreiros e de Tourilhe, em Sobrosa, e na Casa do Bairro, em Mouriz. O pai exerceu as funções de procurador fiscal e de vereador na Câmara Municipal de Paredes, entre 1878 e 1882, sob as presidências de José Guilherme Pacheco e de Albino de Lemos Coelho Ferraz. Foi também presidente da Junta de Paróquia de Sobrosa de 1893 a 1896. Adélia teve por padrinhos de baptismo os avós maternos, Joaquim de Meireles (1822-1907) e Maria Josefa Moreira da Silva e Pinho (1819-1909).
Outros avós e bisavós se destacaram igualmente nas lides políticas de Oitocentos, como o avô materno, vice-presidente da câmara, e o pai deste, Manuel Caetano de Meireles (1788-1869), ou no campo militar, como o avô paterno, Zeferino José Coelho de Barros, que atingiu a patente de capitão, à semelhança do pai, Anacleto José Coelho de Barros, também vereador municipal.
A irmã mais velha chamava-se Aurélia Cândida Meireles de Barros Duarte (1872-1941). Foi casada com Joaquim Coelho Duarte, natural de Vilela, também tio de dois presidentes da Câmara paredense, não tendo havido filhos deste casamento. Este casal residiu em Casal de Goda, junto ao cruzeiro da igreja do mosteiro de Ferreira.
A irmã mais nova, Otília Laura de Barros Brandão (1879-1958), casou com o engenheiro Alípio Rodrigues Pinto Brandão (1871-1947), da ilustre Casa do Outeiro de Além, em Mouriz, filho, sobrinho e cunhado de presidentes da Câmara Municipal de Paredes. Deste casamento nasceram Maria Arminda, Maria Emília, Maria Sofia e Adelino.
Não tendo informações sobre a infância e juventude de Adélia Coelho de Barros, podemos supor que, atendendo à sua condição familiar, terá frequentado a escola feminina de Sobrosa, que entrou em funcionamento no ano lectivo de 1875/1876, sob a orientação da professora Albina Dias Torres de Seabra (1849-1906), à época apelidada de “mestra de meninas”. Paralelamente, o facto de ser neta de Joaquim de Meireles, professor da Cadeira de Ensino Primário da freguesia de Sobrosa durante 19 anos, terá igualmente exercido influência na sua educação, como se pode depreender numa carta dirigida à sua irmã Aurélia:
“Aurélia
Recebi a tua cartinha e grato às tuas expressões, respondo à tua pergunta. O tempo que tem a decorrer para o teu primeiro exame, depende do aproveitamento futuro nas ciências escolares.
É necessário que te dediques, aperfeiçoando-te em tudo para poderes satisfazer ao difícil acto a que te propões.
Ao teu zelo, ao interesse que por ti tomas doravante à tua professora, será reduzido a um ano o período necessário para esse exame; porém, se em lugar do zelo, fores desmazelada, e a professora te desprezar, passarão dois, três ou quatro, e não satisfazes como te cumpre. Estás muito crescida; e torna-se da maior necessidade que deixes a escola o mais breve.
Pede à tua hábil professora que te auxilie em tudo, e pela tua parte faz como uma menina, a mais concertada, dedicando-te só ao trabalho escolar, a fim de conseguires no mais curto período o que desejas. Se precisares de mim para te auxiliar, encontrar-me-ás às tuas ordens.
Se queres parecer os teus, obra em juízo e encontrarás as consequências certas. Parece-me que nos exames do ano de 1885 serás examinada com louvor, se desde hoje até então fores assídua no estudo, e desprezares para sempre os brinquedos de criança.
Estudar instantemente será o teu proceder doravante; e fica certa de que terei o maior prazer, sabendo que te dedicas, como deves, empregando todo o tempo em estudar.
Sei que é árdua a tarefa, mas havendo vontade, tudo se vence. É forçoso estudar já alguns princípios de gramática para mais tarde provares dela ter conhecimento, e não deixar para tarde, porque só dela te advirá o conhecimento da nossa língua.
Estuda esta primeiro, até a leres correctamente, antes de a leres à Mamã, pois se assim não fizeres, a Mamã dirá que tu nem ler sabes, e é uma vergonha para uma menina como tu.
Ferreiros, 17 de Fevereiro de 1884.
Dispõe deste teu Avô
Joaquim de Meireles”
Adélia Coelho de Barros casou a 1 de Julho de 1899, na igreja da Vitória, cidade do Porto, com Alberto Leal Coelho Barbosa, nascido na Casa de Lourosa de Cima, em Mouriz, a 1 de Junho de 1876. Era filho do Dr. António Joaquim Coelho Barbosa (1839-1903), bacharel em Direito, descendente das casas de Lourosa e do Campo, e da sua segunda mulher, Emília Leopoldina Leal Coelho Barbosa, com ascendência na Casa da Agrela, em Duas Igrejas, e na Casa da Maia, em Vilela.
Alberto Barbosa era contador do juízo da comarca de Paredes desde 1893, tendo ficado conhecido antonomasticamente por o “Contador de Paredes”, como se depreende pela documentação da época e por ainda hoje ser conhecido na família por o “tio contador”.
Após o matrimónio, o casal fixou residência em Castelões de Cepeda. O seu casamento foi algo turbulento e não gerou filhos. As desavenças entre o casal culminaram em divórcio, decretado por sentença de 2 de Outubro de 1911. Terá sido um dos primeiros processos de divórcio em Portugal, cujo enquadramento legal só entrou em vigor com a publicação de um decreto com força de lei, em 4 de Novembro de 1910.
Apesar desta decisão tão drástica para a época, o casal fez as pazes pouco depois, a 11 de Novembro de 1911, sem partilhas. O casal permaneceria unido até 3 de Março de 1917, dia em que o “Contador de Paredes” se afasta definitivamente da esposa. As partilhas fizeram-se no dia 7 de Abril de 1917, tendo o marido ficado com a casa por 12.000$00. Todas estas datas e acontecimentos relacionados com a separação do casal foram publicados por Alberto Leal Coelho Barbosa em impressão tipográfica.
A 26 de Setembro de 1921, o contador redige o seu testamento, designando como herdeira a sua mãe, e instituindo alguns legados aos Bombeiros, à Misericórdia, ao pároco, aos sobrinhos e afilhados, aos criados e aos pobres, não referindo a sua ex-mulher. Faleceu em Lourosa de Cima a 28 de Agosto de 1927, tendo desejado ficar sepultado no Cemitério Municipal de Paredes.
Após este fim definitivo, Adélia Coelho de Barros revela a sua paixão pela escrita, tendo publicado três livros: Poesia da Verdade (1929), Flores do Amor e Saudade (1931) e Sentimentos do Amor – Despedida (1932). Cada um dos volumes tem cerca de 80 páginas, num formato ligeiramente inferior ao A5, tendo sido produzidos pela Empresa Industrial Gráfica do Porto, Lda., com sede na Rua dos Mártires da Liberdade, 178.
No prólogo do primeiro livro, a autora escreve:
“Resolvi escrever este livro poético intitulado – «Poesia da Verdade» aproveitando as musas e inspirações das horas tristes e alegres no decurso da minha vida.
Podendo garantir aos meus leitores, que lendo este atenciosamente, e depois de alguns momentos de reflexão encontrarão a verdade triunfante em todos os meus versos! Não trato pois, de vaidades, mas sim da verdade que é a mais linda luz do mundo!
Começo por uns versos emocionantes, mas ide lendo, que também encontrareis alguns alegres, para eu ser agradável aos corações felizes.”
A obra poética predominante são os sonetos, tendo alguns dedicados a pessoas significativas para a autora, que vão desde familiares a pessoas com alguma relevância social na sociedade paredense dos anos 20.
É de assinalar a dedicação de vários versos ao falecido ex-marido, por quem nutria ainda um amor vivo e intenso, como se pode ver por esta composição de dois sonetos:
“Marido no túmulo
Perdoo-te tudo quanto me fizeste,
E se eu pudesse, inda te ligava à vida,
De ti tenho uma recordação querida –
E amo-te tanto, como à mãe celeste!
Era grande o amor que t’eu dedicava
Por isso, o meu enlevo é perdoar-te;
Sofri muito e não pude deixar-te!
Porque eras o Santo qu’eu amava!...
Deixaste-me tu, sem razão nem jeito
Por um capricho louco caminhaste assim…
Que tristeza a minha! – pobre de mim!...
Fiquei sozinha sem ter uma esperança
Foi pior que uma dura lança –
Que sem dor m’atravessasse o peito!!
Sobe ao céu, ai! Sobre já,
Pois eu tudo te perdoo…
Se eu pudesse, em grande voo!
Tu subias já p’ra lá!
Aí nesse mausoléu,
Descansa o teu coração.
– vou pedir, à mãe do céu –
P’ra te levar pela mão…
E tu, com saudades minhas,
Nas asas dumas pombinhas
Partes, por mim a chorar!...
Já pressinto vir um Anjo,
Mandado por um Arcanjo –
P’ra com ele te levar – !”
Dedica ainda algumas páginas a temas como o respeito, a educação e a mulher no campo da verdade.
A segunda publicação de Adélia Coelho de Barros tem várias reflexões sobre temas como: saudade, amor do lar, conviver, língua mordaz, a inveja, o mofador, o adulador, a mentira, amizade, o favor, solidão, o segredo, independência, economia, linha fidalga, o amor, amor de mãe, valor da mulher, honra da mulher, autoridade e superiores, o clero, o talento e a esperança.
No prólogo, a autora afirma que neste livro “devem os meus leitores encontrarem na sua versão, sensações agradáveis, sorrisos misteriosos, e o aroma fino dum pensamento filosófico”.
No terceiro e último livro, Adélia Coelho de Barros adverte que: “Este é muito sentimental…, porque foi escrito abrasada na saudade, banhada em pranto por «entes queridos que já desapareceram». Encerra trechos, que só um coração de granito poderá resistir… Talvez os meus leitores se vão sensibilizar porque vou despedir-me de vós – pondo com este livro ponto final nas minhas obras”.
Este livro inclui a transcrição de uma carta dirigida a Henry-Georges Flandin, um crítico literário francês que publicara um artigo na “Revista Francesa” intitulado “Portugal Desconhecido”. Nele, refere Adélia Coelho de Barros como uma das maiores glórias de Portugal e dos Algarves, reconhecendo-a como “um talento que nos esmaga com a sua grandeza” e “a personificação exacta da alma de Portugal cavalheiresco, sonhador, aventuroso e místico”. O texto termina com a exaltação da escritora paredense ao mais alto nível:
“Franceses! Saudai na grande poetisa Adélia Coelho de Barros (a maior glória latina do nosso século) a imortal pátria lusitana! Ela e Camões são dois faróis tão potentes que a sua luz basta para ofuscar toda a literatura latina!”
O entusiasmo da autora foi tal que arquivou o duplicado da tradução no cartório do Dr. João Machado, então notário da vila de Paredes, remetendo ainda outro para a Torre do Tombo, em Lisboa.
Este livro contém outro soneto também intitulado “Marido no túmulo” e termina com reflexões sobre o casamento, a idade, a mulher no campo na verdade, tema este já abordado no primeiro livro.
No mesmo ano em que publicara a sua derradeira obra, com o subtítulo “Despedida”, Adélia Coelho de Barros faz o seu testamento, que se transcreve na íntegra:
“Eu, Adélia Coelho de Barros, viúva, proprietária, residente nesta vila de Paredes, achando-me em meu perfeito juízo e livre de qualquer coacção, resolvi fazer o meu testamento e disposição da minha última vontade da forma seguinte: Nomeio meu testamenteiro o pároco da freguesia onde eu, ao meu falecimento, tiver o meu domicílio, a quem encarrego e peço para me mandar fazer uma campa perpétua, só com uma gaveta, no cemitério da freguesia de Sobrosa, desta comarca de Paredes; e até a dita campa se acabar de construir, quero ser depositada no mesmo cemitério, no jazigo de meu avô, Joaquim de Meireles. E na falta do primeiro testamenteiro que acabo de nomear, nomeio então o pároco que for de Sobrosa, ao meu falecimento. Quero ir vestida com o hábito da Senhora da Conceição e que na minha campa se escreva o seguinte: “Aqui jaz uma devota da Senhora da Conceição”.
Quero que se mande celebrar por minha alma sete missas de notícia e no mais curto prazo que possa ser, quero se mande dizer duzentas missas também por minha alma. Quero que se celebre quinze missas por meu pai, quinze por minha mãe, quinze por meu marido e cinco pelas almas do purgatório: tudo isto o mais breve possível, que não exceda ao prazo de três meses. Quero o enterro conforme à minha pessoa e missa de corpo presente, quero ser encerrada numa urna e que esta se não feche, senão quando eu for para o cemitério, por recear que possa ser um ataque como já tem acontecido a alguém. Quero ser conduzida na carreta da Corporação dos Bombeiros desta vila, à minha última morada.
Quero que se dê aos pobres de Paredes cinquenta escudos, na véspera de Natal, no ano do meu falecimento. Deixo a cada um dos meus afilhados e afilhadas que ao meu falecimento estiverem em Portugal, a quantia de cinquenta escudos. Deixo em propriedade as minhas jóias e o recheio das minhas roupas de vestir às minhas irmãs Aurélia e Otília e, na sua falta, às minhas sobrinhas Maria Sofia, Maria Emília e Maria Arminda. Lego às minhas irmãs Aurélia e Otília o usufruto dos meus haveres no Brasil e, na sua falta, passará em propriedade para os filhos e filhas de minha irmã Otília.
Deixo o recheio da minha casa ao meu sobrinho e afilhado Adelino, filho da minha irmã Otília, menos dinheiro ou papéis de valor ou dinheiro da caderneta que se encontrar dentro da porta do cofre, agora o que estiver nas gavetas do mesmo cofre isso fica sendo do dito meu sobrinho Adelino, assim como se a casa onde eu estiver ultimamente a viver se for minha, deixo-lha em propriedade e todas as suas pertenças.
Deixo o remanescente da minha herança à Senhora da Conceição da freguesia de Sobrosa e, caso a lei não faculte, nunca o governo poderá lançar mão, passará então para auxiliar o futuro asilo da casa da Igreja que foi do Padre António de Meireles, tudo isto da freguesia de Sobrosa, desta comarca de Paredes.
Deixo dois contos de réis ao meu testamenteiro para gratificação do seu trabalho.
Declaro que dívidas que não estejam descritas no meu livro de apontamentos que são falsas.
O segredo do cofre é: G.J.R.
Declaro que não quero que nunca na minha campa se deposite cadáver nenhum além do meu, para a qual deixo ordem ao meu testamenteiro, para comprar o terreno e mandar construí-la. E, na falta dos Bombeiros de Paredes, podem ser substituídos pela Corporação dos Bombeiros que fiquem mais perto da minha última morada – como muito bem entender o meu testamenteiro. No caso de minhas irmãs Aurélia e Otília serem vivas à data do meu falecimento, deixo a propriedade dos meus bens do Brasil a meus sobrinhos e sobrinhas, filhos e filhas de minha irmã Otília. E por esta forma tenho concluído o meu testamento da minha última vontade o qual vou assinar.
Paredes, sete de Dezembro de mil novecentos e trinta e dois.
Adélia Coelho de Barros”.
Apesar de o notário a descrever como divorciada, a própria considerava-se viúva (tal como nos seus livros) e mandou celebrar missas pelo marido.
Viria a falecer em Castelões de Cepeda, no dia 26 de Dezembro de 1940, contando 66 anos.
O padre Armando Pereira, seu testamenteiro, enquanto pároco de Castelões de Cepeda, requereu à Junta de Freguesia de Sobrosa a concessão de um terreno no cemitério, cujo termo de cedência foi lavrado a 9 de Agosto de 1942. Na lápide colocada sobre a pedra tumular ainda hoje se pode ler o epitáfio “AQUI JAZ UMA DEVOTA DE N.ª SENHORA DA CONCEIÇÃO / D. ADÉLIA COELHO DE BARROS”.
Tendo em conta que o remanescente da sua herança revertia para a Senhora da Conceição de Sobrosa, a respectiva confraria é hoje titular do direito de concessão da sepultura n.º 17 do canteiro n.º 1 do Cemitério Paroquial de Sobrosa.
Esta confraria terá ainda herdado umas casas em Espinho, onde Adélia Coelho de Barros costumava veranear. Segundo testemunhos orais, a confraria decidiu vender essas casas, dado que a distância não permitiria uma gestão eficiente das mesmas. Esta opção ter-se-á revelado como a mais acertada, pois alguns anos mais tarde o avanço do mar acabaria por fazer desaparecer essas casas.
Celebrar os 150 anos do nascimento de Adélia Coelho de Barros é recordar a mulher, a escritora, a benemérita: três facetas de uma personalidade ímpar no seu tempo.
Junho de 2024
Cristiano Marques da Costa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes impressas
BARROS, Adélia Coelho de (1929). Poesia da Verdade. Paredes: Empresa Industrial Gráfica do Porto, Lda.
BARROS, Adélia Coelho de (1931). Flores do Amor e Saudade. Paredes: Empresa Industrial Gráfica do Porto, Lda.
BARROS, Adélia Coelho de (1932). Sentimentos do Amor – Despedida. Paredes: Empresa Industrial Gráfica do Porto, Lda.
Fontes manuscritas
Registos Paroquiais de Sobrosa, Louredo, Mouriz e Vitória (Arquivo Distrital do Porto)
Registo do Testamento de Alberto Leal Coelho Barbosa (Arquivo Municipal de Paredes)
Testamento de Adélia Coelho de Barros (Arquivo da Confraria de Nossa Senhora da Conceição da Paróquia de Santa Eulália de Sobrosa)
Concessão de terrenos no Cemitério Paroquial de Sobrosa (Arquivo da Freguesia de Sobrosa)
Agradecimentos
Otília Maria de Barros Dias Meireles de Amorim
Maria Isabel Moura dos Santos Alves Pereira